"Erguer a Voz e Cantar" de António Macedo

Canta canta amigo canta
vem cantar a nossa canção
tu sozinho não és nada
juntos temos o mundo na mão

*Refrão de "Erguer a Voz e Cantar"

Via  página  de Vitor Serrão FB, permite-nos agora a actualização de um post do blog, publicado em  6 de Abril de 2009, sobre um autor e uma canção de resistência.

"MEMÓRIAS DE SÍTIO, COM «OS BOIS» DE ANTÓNIO MACEDO. Quase nos esquecemos, por vezes, das pessoas que contaram e contam, como os dedos das mãos, no percurso da estrada. Nunca são demais, e um cantor, um poeta, podem ser muito importantes nessa contagem. Eis que uma canção me traz por momentos a voz e o talento cáustico do Macedo. Ele chamava-se António Inácio dos Reis Macedo (1946-1999) e faria setenta anos se fosse vivo, mas andamos hoje muito esquecidos do seu percurso: foi poeta, cantautor, professor liceal itinerante, formado em Filologia Germânica na FLUL, pintor e desenhador, estudioso de Henry Miller, e muitas outras coisas ligadas a muitas causas. 
Uma das suas canções eternizou-se: «Canta, amigo, canta» (com poema de Maurício Cunha); hoje continua a ser cantada sem que as pessoas saibam já quem foram os seus autores !
(...)"
De um texto de Vitor Serrão
Nota: a poeirenta fotografia, tirada pelo Maurício no Casalinho da Praia das Maçãs, é de 1980: vemo-nos, o António Macedo, o José Cardim, e eu -- trinta e seis anos atrás... (legenda de Vitor Serrão)





António Macedo
A canção “Erguer a voz e cantar”, foi talvez a canção de intervenção mais emblemática dos anos setenta - pois por todo o lado o “canta amigo canta...” era cantado em coro, durante as manifestações musicais e culturais,( normalmente à última hora proibidas), nos ajuntamentos (normalmente reprimidos), em reuniões estudantis e mesmo no Coliseu dos Recreios, no I Encontro da Canção Portuguesa com um coro de 5.000 vozes, em Março de 1974, já nas vésperas do dia 25 de Abril.


Canta canta amigo canta
vem cantar a nossa canção
tu sozinho não és nada
juntos temos o mundo na mão

Erguer a voz e cantar
é força de quem é novo
viver sempre a esperar
fraqueza de quem é povo
Viver em casa de tábuas
à espera dum novo dia
enquanto a terra engole
a tua antiga alegria

Canta canta amigo canta
...

O teu corpo é um barco
que não tem leme nem velas
a tua vida é uma casa
sem portas e sem janelas
Não vás ao sabor do vento
aprende a canção da esperança
vem semear tempestades
se queres colher a bonança
Erguer a voz e cantar
à força de quem é novo
viver sempre a esperar
fraqueza de quem é povo

Viver em casa de tábuas
à espera dum novo dia
enquanto a terra engole
a tua antiga alegria

O teu corpo é um barco
que não tem leme nem velas
a tua vida é uma casa
sem portas e sem janelas
Não vás ao sabor do vento
aprende a canção da esperança
vem semear tempestades
se queres colher a bonança


António Macedo deixou-nos em 1999 com 53 anos.

Capas do EP original e capa do single encontradas -aqui e aqui

No YouTube:
https://youtu.be/s4__LPPbsGo

Nota:
O ambiente do 1ºEncontro da Canção Portuguesa no Coliseu em Março de 1974:
Um forte aparato policial é montado no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, onde se realiza o 1.º Encontro da Canção Portuguesa e durante o qual serão entregues os prémios atribuídos no ano anterior pela Imprensa. Participam no festival, entre outros, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, José Jorge Letria e José Carlos Ary dos Santos. A canção Grândola, de José Afonso, é entoada em coro pelo público que enchia o Coliseu e, no fim, milhares de pessoas gritam «abaixo a repressão!».

Comentários

Graça Sampaio disse…
Foi a 1ª canção que a minha filha mais velha aprendeu a cantar.... tinha dois anitos. Tempos da Revolução....
amsemedo disse…
Muito obrigado pela publicação!
Extremamente interessante! :)
pedro macieira disse…
Caro amsemedo, Correcção efectuada e as minhas desculpas pelo lapso.Abraço
amsemedo disse…
Obrigado
Abraço :)

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